domingo, setembro 25

Romper o silêncio!

TODOS gostam de comentar a linha tênue que separa o ódio do amor, há uma certa satisfação em remeter o sentimento maligno à proximidade da apreciação. Clichês à parte, o amor não perpetuado transforma-se por várias vezes em mágoa, quando não seca, pura e simplesmente. A mágoa é um dos escárnios da humanidade, corrói egos, destrói vidas, arquiteta planos mirabolantes para atingir um fim prejudicial, ou simplesmente silencia uma voz.


CONVIVER com ela pode ser uma das mil artes desenvolvidas pela nossa civilização moderna. Transformá-la em algo adverso pode ser a solução deste admirável mundo novo. Se amor acaba em mágoa, mágoa  acaba em quê? Falo da tênue linha que separa mágoa e ódio com a certeza de que quando os ressentimentos são despejados, existem dois caminhos: ou tudo se resolve e o borbulho morre (inércia), ou algum dos lados – curioso que é – insiste em invadir a sua história. Aí o ódio é inevitável.

SINTOMAS melhores do que o ressentimento, o ódio apresenta. Mas o pequeno espaço que o limita isolado dos amores não representa necessariamente que ele transforme-se de novo, siga o caminho inverso e tudo sejam rosas outra vez. Pelo contrário. Ele já gastou o seu combustível sentimental quando era mágoa, não pode mais imprimir algum regresso pela trilha tortuosa a qual passou. Agora, com ares de indiferença, a única reação que ele causa é uma leve contração estomacal quando vê o nome desafetuoso, náuseas. 

SE ARREPENDIMENTO matasse, não teria dito “sim” durante o plebiscito pelo desarmamento.

segunda-feira, junho 13

Facilmente se diz o que nas mãos não cabe..!

Desistiria de toda a esperança se me ordenares-ses,

Permaneceria difusa, com as mãos vazias e o coração acelerado.

De repente daria uma volta, três voltas se possível,
De graus diferentes, de vertigens rápidas,
Sempre no caminho que traçasse com os olhos apaixonados pelo ar.

Na distância do que foi e do que as fará permanecer

Os gestos como lanternas acesas, as palavras como faróis que guiam

A facilidade do sol que a aquece.


Perdoei ..? Sim, com todo o meu coração.
Esquece-lo ..? Não... Talvez um dia, mas hoje ainda tenho medo ...ainda tenho pesadelos..
assim...

Facilmente te dará o que não lhe cabe nas mãos…

quarta-feira, junho 1

e se eu pudesse...

Fugir. 
Deixar que o tempo passe por mim e apague as dores e as mágoas e as lembranças. 
Ficar vazia, sem pensamentos, por um dia. 
Por um mês. 
Um ano. 
Morrer depressa. 
Apagar os vestígios de mim no mundo. 
Talvez um dia renascer. 
Quem sabe menos deprimente. 
Com mais energia. 
Menos entrega. 
Menos paixão. 
Menos eu. 


Fugir. 
Enterrar-me num pedaço de papel e voar com o vento para qualquer lugar. 
Bem longe daqui, longe de mim. 


Fugir. 
Reinventar-me no corpo de alguém. 
Sem promessas. 
Sem futuro.
Sem vergonha. 
Sem passado. 
Sem presente. 
Só o minuto do calor dos corpos e do cheiro que fica sempre no ar. 


Fugir. escapar-me entre os meus dedos que procuravam afincadamente outros dedos em que se pudessem encaixar. 


Apenas fugir de mim.


se pudesse, não iria ...não agora !

terça-feira, maio 17

10 Minutos

Dá-me dez minutos. 
Um pouco de silêncio. Um espelho. Uma parede para me encostar e poder escorregar. Até ficar sentada no chão. De joelhos flectidos. Sim, sei que a saia vai ficar desalinhada. Dá-me dez minutos assim. Para mim. Em que eu possa ser, desesperadamente, eu. Ou uma outra qualquer. Às tantas uma pessoa cansa-se de ser sempre a mesma. 

Nove minutos.
E quero mudar. De corpo, de coração e até talvez de alma.
Descalço os sapatos. Pego na escova de dentes enquanto os meus pés pisam a tijoleira fria. Do outro lado desta porta feita de madeira, ouço vozes e o teu choro. E sim, estou deveras ocupada. 

Oito minutos. 
Isto é uma casa de banho. Na casa de uma outra pessoa. Mas não aguento mais é nesta ou noutra cidade. Pouco importa. Só quero estar só..chorar com vontade, gritar com todas as minhas forças..que esta não sou eu!

Solto os cabelos e dispo a t-shirt. Tiro os brincos e observo as lágrimas que caem nos meus dedos.

Dispo-me depressa. Depressa, porque não quero pensar. É a velocidade do contra-relógio. A urgência do momento. A intensidade do grito que calo diariamente.

Seis minutos. 
Os meus dedos afagam a suavidade do cetim. Acaricio as alças do soutien, fazendo-as deslizar através do braço. Lentamente. Tenho saudades. Tenho sede. Tenho um medo imenso. Abraço-me com força. Preciso de me fazer sentir quente. Carne minha. Crua de ti. Tijoleira fria.


Aquela ali sou eu. Foi naquilo em que me tornei. Tenho tantas saudades do meu corpo, aquele que detestei durante anos.


Cinco minutos.
Fecho os olhos e aquieto-me no reflexo imaginário deste corpo despido e destruído pelas marcas da maternidade. O meu corpo? Relembro-me de como era insignificante o bikini do verão que se aproximava e agora nestes segundos só consigo imaginar-me num fato de mergulho.

Sinto-me embalada pela letargia morna do desejo. Sou só eu. Embalada neste torpor de prazer roubado. Ao espelho. 


Tenho vergonha de me despir em frente a ti. Não deixo de pensar como a mudança exterior me afecta e me transforma por dentro. Traz novamente aqueles momentos de desespero e a falta de apetite.


Por hoje chega de massacre. 


Três minutos.
Retoco o cabelo e apanho as últimas madeixas num penteado imperfeito. Esta sou eu. Um pouco sozinha. Emoldurada na tela do tempo. Visto-me rapidamente para não pensar mais... e lavo a cara.


Um minuto.
Já vou, respondo ao teu choro..e passaram dez minutos. De mim.

sexta-feira, março 25

Efémero...!

O que nos faz, mais do que tudo, querer viver?
O que é que nos faz querer ser livres?
Quando sabemos que somos livres?
Como sabemos que vivemos?

Os outros não sei. 

Eu sinto a vida através do silêncio. 

Da ausência de pensamento.
Do sentir quando não está, do saber quando não se vê, do amar quando se esgotaram as forças. 
Destes minutos que são horas, que eu faço companhia a mim mesma, e ao mesmo tempo a tanta gente me rodeia, sem o estar. 
Dos cinco que estão lá, que afinal são dois, mas não importa, parecem vinte. 
Deste não olhar ao espelho e ver a minha alma com os meus dedos.
Deste não sair do mesmo sítio e viajar para longe, ou para o outro lado da ponte.
Aceitar quem sou e como estou. 

Gostar de quem conheço. 
Acreditar, e mais que tudo, sentir que não há razão para fugir do que existe, porque se existe, é para mim. 
Para que eu me possa construir e me moldar ao que me rodeia.
Aceitar o meu destino, mas não me deixar vencer. 

Reconhecer as oportunidades certas para o mudar. 
E não perder a energia a pensar no que passou, e não planear o que não pode ser planeado. 
Saborear-te na viagem, e ter a companhia certa. 
Ter tempo para respirar, para tocar, para ouvir. 
Ver o mar, ouvir a chuva, tocar nas paredes das casas. 
Ter prazer nas pequenas coisas. Divagar.



domingo, março 6

Respirar 1..2..3 vezes (continuo)

Como é que eu pude?

Será que algum dia me vou perdoar? Esquecer?

Será que algum dia vou conseguir passar pelo menos um mês sem pensar nisso?

Como...?

Quem era eu?...em que direcção estava eu a ir? Como deixei que me fizessem tanto mal...como é que fui capaz de perder todo o amor-próprio? E...como é que, passado tanto tempo, ainda bato na almofada à noite quando penso nisso, ainda fico zangada...ainda me sinto culpada.
É incrível como somos capazes de coisas que vão completamente contra o que achamos correcto, como nos humilhamos, como ficamos cegos...

Será que tudo seria igual se....?

Sufoco. Sente um sufoco, um aperto interior…como se o matassem por dentro, aos poucos.
Um vazio transbordante que incomoda, sufoca, aperta e destrói. Um aperto no peito que o impede de pensar, de respirar, de se soltar. Sente um peso na cabeça que incapacita os seus movimentos.
A falta de algo…de alguém. Um abraço vazio, um beijo perdido…um sussurro inaudível. Um riso mudo e uma imagem perdida nos pensamentos que não existem. Grita. Encolhe-se. Chora em completo descontrolo…chama por alguém que não está ali…que nunca esteve. A parede é agora alvo da sua raiva, da sua impotência. Ouve um estrondo, abre os olhos…está no chão, olha em volta e tudo está diferente…nada é como deveria ser. Onde está o jardim dos seus sonhos? A criança que corria alegremente de pés descalços de encontro a si, o sorriso de alguém à sua espera naquela pequena casa tão cheia de felicidade?...outro estrondo.

Abre os olhos lentamente, uma lágrima corre-lhe pelo seu rosto cansado. Um suspiro, um beijo, um toque…um abraço quente, acolhedor. Estrondo. Sangue. “Amo-te” (um sussurro). Silêncio. Suor, uma carícia, um grito…um sorriso. Outro estrondo.


Debate-se entre pensamentos, fantasias, dúvidas e realidade. A parede continua ali. Corre desenfreadamente contra ela; ele existe, está ali...sente o sangue das sucessivas pancadas na parede, sente a dor de mazelas antigas e recentes…sente a tristeza, a raiva, a saudade…onde está o jardim dos seus sonhos? A criança das suas memórias e a mulher da sua vida…

Senta-se no chão numa apatia total…sorri. “Estão aqui” sussurra baixinho, temendo perdê-las se falar alto demais…não as quer assustar. “Estão aqui…” diz, chorando baixinho de felicidade.

Estende os braços para o vazio…abraça alguém que só ele vê.
Por breves momentos aquele sufoco desaparece.

quarta-feira, março 2

...Quando ?

Sinto-me cansada.
Cansada de me sentir assim. 
Estou mesmo cansada...é a única palavra de que me lembro neste momento. Queria que isto parasse.
Quero.
Parece que já não consigo aguentar muito mais...como se este aperto me fosse consumir por dentro.
Não sei a quem pedir para parar. Não sei como parar esta angústia. 
Este vazio, este sufoco que me invade...estou farta, cansada...tão cansada.


De um olhar de desprezo, voz cheia de rancor.
Palavras secas e diálogos ignorados num jogo de mágoa prevista.
Deixa-me!
Não procures em mim o alicerce que perdeste eu não sei ser e não largues em mim a raiva que já não sabes esconder.
Não mereço! 
Não quero! 
Nem sei.
São dois anos a aplaudir os teus erros com desculpas em magoas, um ano a sofrer por danos que não causei.

Dizem que quando estamos mal descarregamos toda a mágoa e toda a raiva acumulada em quem mais nos quer bem.

Tem que ser assim?

Quando é que vou estar à altura das tuas expectativas? 
Quando é que vou poder estar bem contigo sem pensar que tal paz não vai durar?
Tenho uma novidade para ti: "eu não sou a única culpada" ....

domingo, fevereiro 27

Tua..?

Se sou tua? Sou.
És meu? Acho que sim. Um "tua" e um "meu" sem qualquer sentimento de possessão.
Eu sou tua porque quero ser. Só tua. Tu és meu porque assim quiseste. 
Somos um do outro, sendo assim...livres. Livres nas escolhas, nos pensamentos, nas opiniões, nas amizades.
Livres.
Somos um do outro sem que ninguém nos mande ser.
Sem que ninguém nos diga como o ser.
Sou tua.
Mas quero ser mais tua.
Quero? Não só. Preciso.
Onde está o teu toque? O teu beijo, o teu suspiro? 
Onde ficaram eles no meio de tantos medos? Onde está o desejo que sentias por mim?
Dizes que está aí...mas eu não o vejo.
Quero entender e entendo, quero suportar e suporto...mas não consigo evitar as lágrimas, a tristeza, a cabeça apoiada nas mãos, no meio da multidão sem que ninguém perceba "porque está aquela ali tão triste?"
Não consigo evitar o medo que tenho de nunca mais voltarmos a ser o que éramos.
O medo de nos perder.

Quero tocar-te e tu não deixas, afastas-me. Estás com sono, estás cansado, doem-te as costas...apetece-te brincar, não namorar. 

O teu beijo? Que lhe fizeste?
Sou tua namorada. Sou tua. Mas às vezes fazes-me sentir como se fosse só tua amiga, só mais uma. Quando me fazes tua? Quanto tempo mais?
Só um beijo...só um toque ou um suspiro...é só o que quero de ti neste momento.

Dói...e dói não poder falar com ninguém. Dói não te poder dizer o que sinto porque sei que te vou magoar. Sufoca...porque quero entender-te mas sinto que não estás a fazer nada para mudar a situação. 
E sinto-me mal por sentir isto.
Só quero o antes, sem ter medo do depois.
Quero que o teu coração bata mais forte por mim, e quero permitir que o meu o faça também.

sábado, fevereiro 5

Au Revoir

(...)Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, (...).Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo janela fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora e a seguir esqueçer o sitio!Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio e paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer.'

A vida só para ...depois da morte ..