domingo, março 6

Respirar 1..2..3 vezes (continuo)

Como é que eu pude?

Será que algum dia me vou perdoar? Esquecer?

Será que algum dia vou conseguir passar pelo menos um mês sem pensar nisso?

Como...?

Quem era eu?...em que direcção estava eu a ir? Como deixei que me fizessem tanto mal...como é que fui capaz de perder todo o amor-próprio? E...como é que, passado tanto tempo, ainda bato na almofada à noite quando penso nisso, ainda fico zangada...ainda me sinto culpada.
É incrível como somos capazes de coisas que vão completamente contra o que achamos correcto, como nos humilhamos, como ficamos cegos...

Será que tudo seria igual se....?

Sufoco. Sente um sufoco, um aperto interior…como se o matassem por dentro, aos poucos.
Um vazio transbordante que incomoda, sufoca, aperta e destrói. Um aperto no peito que o impede de pensar, de respirar, de se soltar. Sente um peso na cabeça que incapacita os seus movimentos.
A falta de algo…de alguém. Um abraço vazio, um beijo perdido…um sussurro inaudível. Um riso mudo e uma imagem perdida nos pensamentos que não existem. Grita. Encolhe-se. Chora em completo descontrolo…chama por alguém que não está ali…que nunca esteve. A parede é agora alvo da sua raiva, da sua impotência. Ouve um estrondo, abre os olhos…está no chão, olha em volta e tudo está diferente…nada é como deveria ser. Onde está o jardim dos seus sonhos? A criança que corria alegremente de pés descalços de encontro a si, o sorriso de alguém à sua espera naquela pequena casa tão cheia de felicidade?...outro estrondo.

Abre os olhos lentamente, uma lágrima corre-lhe pelo seu rosto cansado. Um suspiro, um beijo, um toque…um abraço quente, acolhedor. Estrondo. Sangue. “Amo-te” (um sussurro). Silêncio. Suor, uma carícia, um grito…um sorriso. Outro estrondo.


Debate-se entre pensamentos, fantasias, dúvidas e realidade. A parede continua ali. Corre desenfreadamente contra ela; ele existe, está ali...sente o sangue das sucessivas pancadas na parede, sente a dor de mazelas antigas e recentes…sente a tristeza, a raiva, a saudade…onde está o jardim dos seus sonhos? A criança das suas memórias e a mulher da sua vida…

Senta-se no chão numa apatia total…sorri. “Estão aqui” sussurra baixinho, temendo perdê-las se falar alto demais…não as quer assustar. “Estão aqui…” diz, chorando baixinho de felicidade.

Estende os braços para o vazio…abraça alguém que só ele vê.
Por breves momentos aquele sufoco desaparece.

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